VISITANTES Greda - Grupo de Recuperandos da Dependência de Álcool / Luiz Alberto Bahia: maio 2011

quarta-feira, 18 de maio de 2011


TERMOS IMPRÓPRIOS EMPREGADOS (PELO JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO) NA REPORTAGEM “Grupo dos Alcoólicos Anônimos tem a sua eficácia contestada”, de 27/03/11.


 
Welcome to our blog, dear visitor.
If you are not Brazilian, we would like to ask you gently to inform us from what kind of media you came to know our blog, or even our ideas and works. You would make us a great favor if you could inform us the name of the vehicle (newspaper, journal, TV, blog, etc), as well as the title of the article or report that announced us.
We suggest that you make us this favor by using the link “o comentário”, or even sending an e-mail to lzbahia@gmail.com.
We also accept – and this is extensive to our visitors, including from Brazil – suggestions of themes to be put in dispute. We are entirely available to clarify or inform about any matter related to drug addiction.
We would also like to inform that by now, our blog has been visited by foreigners from the following countries, in decreasing order of number of people: United States, Netherlands, Germany, Russia, Portugal, Spain, Mexico, Canada and Argentina.
Best wishes,
Luiz Alberto Bahia

TRADUÇÃO:
Bem-vindo ao nosso blog, prezado visitante.
Se você não é de nacionalidade brasileira, solicitamos-lhe a especial gentileza de nos informar por qual meio midiático tomou conhecimento de nosso blogue, e/ou obras e ideias. Prestar-nos-ia um grande favor se nos informasse o nome do veículo (jornal, revista, TV, blog, etc.), bem como o título do artigo ou reportagem que noticiou sobre nós.
Solicitamos-lhe que nos faça este favor por intermédio do link “o comentário”, ou pelo endereço eletrônico lzbahia@gmail.com.
Aceitamos também – extensivo a todos o visitantes, inclusive do Brasil – sugestões de temáticas para serem colocadas em debate. Colocamo-nos ao inteiro dispor de todos para esclarecer ou informar sobre quaisquer questões relativas à drogadição.
Informamos ainda que até o presente momento, nosso blogue está sendo visitado por cidadãos estrangeiros, dos seguintes países, por ordem decrescente de número de pessoas: Estados Unidos, Holanda, Alemanha, Rússia, Portugal, Espanha, México, Canadá e Argentina.
Com meus agradecimentos,
Luiz Alberto Bahia



TERMOS IMPRÓPRIOS:

 Agora que o debate não está mais intensificado, cabe esclarecer alguns pontos importantes, sobre termos inadequados empregados pela jornalista encarregada da matéria da Folha de São Paulo, sendo que a maior parte deles foi atribuída à minha pessoa. Só não alertamos sobre esses inconvenientes no auge dos debates, com receio de que nosso pronunciamento pudesse mudar o foco das discussões, mas a questão é de alta relevância e achamos que todos deveriam tomar conhecimento sobre os comentários que passamos a fazer:

Na entrevista que concedi ao jornal alertei a jornalista para os termos inadequados usualmente empregados por leigos em dependência de álcool. Nesta entrevista de quase uma hora e meia, parte da mesma foi para esclarecer sobre este ponto, muito importante, pois alguns deles ajudam a estigmatizar os dependentes. A pedido do jornal, cedi um exemplar do meu livro "O mito da doença espiritual na dependência de álcool (Desmistificando Bill Wilson e Alcoólicos Anônimos)", em que eu alerto para o problema, e explico sobre as consequências que tais inadequações refletem em todos os dependentes. Mas a jornalista não levou em conta essa nossa contribuição e achou mais conveniente empregar termos sensacionalistas normalmente utilizados pelos profissionais desavisados da mídia.

Primeiramente a jornalista diz que eu sou um ex-frequentador de A.A., o que não é verdade. Quando fui perguntado reincidentemente se fui membro de A.A., deixei claro para a jornalista que não o fui, porque não aceitei o programa da irmandade, que na época em que procurei a irmandade buscando ajuda, achei o programa preconceituoso e discriminatório, e até ofensivo (opinião partilhada por muitos dependentes – veja comentários de dois deles aqui no meu blogue).

A frase seguinte, atribuída a mim, em que diz “No AA, o dependente é tratado como pecador e deve aceitar um programa espiritual para ser curado”, leva o leitor mais atento (os especialistas e outros profissionais da área de saúde) a suspeitar de meus conhecimentos sobre o tema. Na verdade eu nunca empreguei o termo “cura” ao me referir a drogadição, já que é largamente sabido e difundido (eu próprio já o afirmei, em meus livros, artigos e em entrevistas) que a doença não tem cura, fato que a jornalista foi devidamente cientificada.

Posteriormente, na matéria, a jornalista diz: “Para Bahia, o AA é baseado numa ideia antiga de que vício é desvio de caráter.”. Aí está outro termo pelo qual não tenho a menor simpatia e que evito sistematicamente: vício. E este termo mereceu destaque nos meus alertas à jornalista, pois quase sempre os profissionais da mídia mostram uma predileção injustificada por ele, e isso foi dito nestas mesmas palavras à desatenta profissional, além evidentemente das explicações salientadas em minhas obras, principalmente no livro em questão, enviado à jornalista. Neste meu livro uso a palavra “vício” apenas quatro vezes, assim mesmo porque elas estavam contidas em citações que faço, e a meu critério, e como manda a boa prática literária, não se muda citação. Uso assiduamente o termo “dependência de álcool” que é o termo mais adequado e menos estigmatizante. A palavra “vício” está completamente em desuso (exceto para muitos jornalistas) em drogadição[1], servindo-se muito mais para se referir à deformação moral das pessoas ou objetos, completamente inadequada para se referir a uma doença. E esta é uma das grandes dificuldades dos profissionais da mídia: ver as dependências – todas elas – como doenças simplesmente. Quase sempre é escandalizante para a mídia.

Quero dizer sobre outra frase que me é atribuída, quando é dito que “o programa estigmatiza o paciente, e a sociedade tem uma visão deturpada do alcoolismo por causa dele.”. Assim como a palavra alcoólatra, alcoolismo é outro termo de que não faço uso, exceto em citações, ainda que sejam palavras usadas com frequência, inclusive por especialistas. Assim nos explicamos em nosso livro aqui referenciado:

O leitor já deve ter observado que, ao longo das páginas anteriores, evitamos as palavras alcoólatra e alcoolismo, a não ser quando se tratava de referência – quando outros assim mencionavam. Achamos melhor evitar essas palavras, não porque elas estejam nominalmente erradas, mas porque o emprego delas acabou sendo desvirtuado ao longo do tempo e hoje são estigmatizantes. Essas palavras já não servem para designar uma doença ou um doente. Esse uso, digamos, tornado impróprio pelo seu mau uso ou viciado, acabou por desqualificá-las como significativas de um conceito na sua mais pura essência. Aquelas palavras servem muito mais para fins pejorativos do que para designar o doente ou a doença; são mais utilizadas para provocar, discriminar, ofender e/ou ferir.{...]“ O termo alcoólatra confere uma identidade e impõe um estigma, que anula todas as outras identidades do sujeito, tornando-o tão somente aquilo que ele faz e que é socialmente condenado, não pelo que faz, mas pelo modo como o faz. Em outros termos, não é a bebia em si, mas aquela pessoa que bebe mal, isto é, de modo abusivo, desregrado, que a leva à condição de ser socialmente identificada popularmente como “alcoólatra”, ou seja, quem “idolatra”, “adora” e se tornou dependente do álcool.

Finalmente quero dizer que o entendimento que o público possa ter tido de meu livro ou de minha pessoa, pode ter sido prejudicado devido aos deslizes cometidos pelos que conduziram a matéria jornalística. E embora meu livro se destine ao grande público, porque foi cuidadosamente preparado para este fim, em uma linguagem muito simples - acessível até para alunos do ensino médio -, sentimos que a abordagem inapropriada prejudicou nossa imagem. Nossos cuidados para um grande alcance do livro se devem principalmente porque não há quem não viva sob as interferências maléficas das dependências do álcool, que é classificada como um dos maiores problemas de saúde pública mundial. Ele é um livro científico. Mas nossa maior preocupação com as repercussões negativas estão ligadas aos especialistas, que podem ter deixado se influenciar pelas colocações inoportunas da jornalista. E assim, com a presente retificação, realinhando nossa verdadeira ideologia sobre alguns aspectos do tema, esperamos minimizar os efeitos perniciosos que foram provocados pela matéria.



[1]Conforme enunciado, em outra obra de nossa autoria, adição é um termo recente, largamente usado em medicina e que deriva de adicção, que por sua vez, vem de adicto. Adicto (Dicionário Houaiss): lat. addictus, a, um ‘adjudicado ao seu credor, como devedor insolvável, p. ext. submisso, escravizado’, part. pas. deaddicere ‘daro seu assentimento, aprovar, adjucar (em lanço), vender; adjucar a pessoa do devedor ao credor, para que este use daquela como seu escravo’ (jur); já substv., no próprio lat. addictus, i (form. a partir do part.pas.) ‘escravo por dívidas’; o subst. Foidoc. em Plauto, numa peça que se perdeu.