VISITANTES Greda - Grupo de Recuperandos da Dependência de Álcool / Luiz Alberto Bahia: março 2013

sexta-feira, 29 de março de 2013

Stanislau Grof e Timoth Leary

O psiquiatra Stanislau Grof postula teorias estapafúrdicas como as de Timoth Leary. O psiquiatra arranjou uma legião de seguidores,  ao criar uma pseudo ciência. Afirmou ele (tem vídeo na Net) que após ingerir LSD, viu o Big-Bang e se tornou o "todo" - e é bom explicar que, para os místicos, o todo significa Deus. E ainda aparece gente para me criticar mordazmente, sobre um comentário (vide abaixo) que postei em um debate sobre o vídeo.
O comentário que fiz foi este:  "Eis aí mais um que abastece a humanidade em sua insaciável sede de crença. Um psiquiatra que não sabe a diferença entre alucinação e espiritualidade. Incrível como ele desconhece que nas alucinações, emerge a (própria) bagagem psíquica de quem alucina. Quer que todos acreditem que ele realmente presenciou o "Big Bang". Neste caso nem vale mais o termo "enteógeno" que para os usuários de drogas significa "ter Deus dentro de si", pois ele é o próprio Deus. Haja paciência."

Incrível como tem pessoas, incapazes de analizar os fatos ou até mesmo fazer simples pesquisas, que não só aceitam, mas defende e divulgam teorias e crenças tresloucadas, sem um mínimo de plausividade. A sede pelo mágico as cegam completamente. Grof nem está sendo original, pois outros loucos fundaram seitas e religiões sob a mesma égide. Ao ingerir drogas alucinógenas, sairam gritando que viram Deus, como é o Caso do farsante Bill Wilson, fundador de A.A., que tratamos aqui exaustivamente. Para mostrar como foi o caso do Leary, citamos abaixo as páginas 168-171 de meu livro “O mito da doença espiritual na dependência de álcool (Desmistificando Bill Wilson e Alcoólicos Anônimos)”:

Tudo começou quando Leary era professor em Harvard e experimentou cogumelos que continham a psilocibina, também conhecidos por cogumelos psicodélicos.
Impressionado com as sensações que lhe provocaram os cogumelos, resolveu com o colega da universidade, Richard Alpert, fazer um estudo com as chamadas drogas psicodélicas. Eles acreditavam que poderiam tratar de doenças mentais e alterar profundamente a visão de quem fizesse uso dessas drogas. Leary passou a indicar a LSD aos alunos da universidade e realizou com eles sessões de uso. Todo esse envolvimento com alunos, drogas e religião acabou por levar o professor a ser demitido de Harvard.
Leary escreveu alguns livros sobre sua teoria, que alardeava sobre como as drogas psicodélicas podiam expandir a percepção interior e exterior, ou ainda, a expansão da consciência. Pode-se encontrar livros disponíveis pela internet, como A Experiência Psicodélica Um Manual Baseado no Livro Tibetano dos Mortos, e a biografia de Leary, intitulada Flashbacks LSD: A Experiência que Abalou o Sistema.
Existem ainda muitos artigos sobre esse controvertido personagem. Pelo que Leary declarou, ele deduzia que a nossa realidade era produto da educação que nós recebíamos e que éramos prisioneiros de nossas próprias circunstâncias. Já sobre as drogas psicodélicas, dizia que sob os efeitos delas, libertávamos dessas amarras e o nosso eu interior se expandia, levando-nos a outras esferas de compreensão. Nossa consciência se expandia a outras dimensões e podíamos assim nos harmonizar com divindades, ou outros círculos espirituais superiores, em que nossa consciência alargava-se infinitamente. Sustentava outros pensamentos congêneres.
Contudo, está claro que os estados de euforia, o êxtase, a alucinação provocada pelas drogas não foram bem compreendidos pelo visionário professor, que levou esses estados alterados de consciência para o lado espiritual. Como dissemos no capítulo anterior, sobre quando Bill atribuiu ao LSD uma autêntica experiência espiritual, as alucinações (quanto ao teor) desencadeadas pela LSD dependem do estado mental do indivíduo, quando se administra essa droga. O estado mental a que nos referimos não é apenas o estado de espírito ou emocional momentâneo, mas também da sua própria estrutura cerebral congênita.
A personalidade do individuo também determina o tipo de alucinação que vivenciará.
Os estados emocionais provocados por eventos, ou mesmo pelas anomalias oriundas de doenças psiquiátricas também definem determinantemente o tipo de experiência a ser vivida pelo usuário. As drogas fazem emergir do inconsciente esses estados emocionais, transitórios ou latentes. Não é possível alguém ter percepções e sensações sem que antes tenha havido registro correspondente no sistema neural desta pessoa. Assim, segundo essa disposição, produzem-se as viagens boas ou más (good trips ou bad trips). Vale também para essa questão, aquela mesma referência que fizemos em outra página, da bagagem cultural de quem alucina: é impossível alucinar com algo que não pertença ao mundo psíquico do paciente.
Assim, tudo aquilo, em termos de figuração, que Leary sentia, ao usar as drogas psicodélicas, já estava em seu inconsciente. Então, poder-se-ia mudar o rótulo de sua conceituação, da proclamada “expansão da consciência”, para: trazer até a consciência, ou fazer emergir à consciência, o psiquismo latente do seu inconsciente, ou simplesmente, alucinar com a bagagem de seu mundo psíquico. Ao sentir o êxtase ou as sensações que a droga proporcionou, Leary relacionou-as com espiritualidade e Deus. Uma única pergunta deixamos no ar: como é que ele poderia ter atribuído essas sensações ao mundo espiritual ou de Deus, já que era ateu até então?
Pensamos que, se não aceitou a razão científica da alucinação, e atribuiu essas sensações e percepções como sendo de ordem espiritual e divina, isso aconteceu sem uma razão plausível. Essa dedução bem provavelmente se deu por associação de ideias, pelo que ele ouvira falar de espiritualidade e de Deus, porque não poderia ser atribuído simplesmente aos efeitos da drogas, por si só, ou às concepções teológicas, já que não havia absolutamente nada que relacionasse uma coisa com a outra. Talvez na bagagem psíquica de que já falamos, no caso de Leary, comportasse fenômenos que em sua concepção estivessem associados ao mundo espiritual, e ao alucinar, isso emergiu para seu consciente objetivo. Entendemos até, pelo conhecimento que temos sobre drogas, que as sensações provocadas por estas, pelo menos quando são administradas inicialmente, são de intensa euforia. No caso da LSD, as percepções podem ser de euforia, de loucura ou de desespero. Enquanto a verdadeira espiritualidade (não observável em fanáticos), de que falam os teólogos iminentes, provoca no individuo uma sensação de paz interior, de serenidade e equilíbrio, que com toda convicção, nada tem de haver com euforia ou loucura que a LSD pode provocar. A euforia intensa ou os estados aleatórios provocados pelas drogas é uma sensação de sequestro da razão, em que o individuo perde o controle da moderação e do equilibro inclusive, sentindo que tudo pode, sem que se note o limite do permissível. Informações sobre esses efeitos ou sensações da LSD foram explicadas na época pelo descobridor da mesma, o químico Hoffman, que sempre a relacionou com o Sistema Nervoso Central, nunca com espiritualidade, misticismo ou religião. A droga LSD foi
muito difundida pelos Hipies, Beatniks, pelos cantores de Rock and Roll, por bandas musicais como os Rolling Stones e Beatles, e jovens transviados. As opiniões de Leary sobre as drogas, são absolutamente subjetivas e está diretamente relacionada à sua estrutura psíquica.
Para divulgar a LSD, inventaram até o famoso ônibus “Furthur”, que era um ônibus escolar, todo pintado com motivações à moda Hippie. Esse ônibus concebido por Ken Kesey83, um escritor que foi o maior apologista das drogas psicodélicas, foi utilizado por ele e seus companheiros, denominados “The Merry Pranksters” para viagens pelos Estados Unidos. Kesey saiu divulgado a LSD por todo o país, acreditando que, se todos usassem a droga, suas consciências se expandiriam e assim começariam uma grande revolução social. Um de seus lemas era: “Você pode passar no teste do ácido?”.
A proposta de Kesey era bem diferente dos ideais de Leary, que não comportava religiosidade e, sim, um movimento social político. Muitos acham mesmo que toda movimentação de Kesey era destituída de qualquer proposta objetiva de natureza político-social, o negócio dele era consumir e fazer apologia à droga. É oportuno dizer que muitos grupos, bandas musicais, cantores e artistas de todos os gêneros faziam essa apologia, por entender que o uso de drogas poderia conduzir as pessoas a um convívio mais socializante. Usando drogas, poderiam adotar uma postura de enfrentamento contra as guerras e pela igualdade, chamados na época de libertários, pacifista, contraculturais. Como já dissemos, o principal deles era o movimento hippie, que pregava a paz e o amor, pelo poder da flor, dito flower power. No auge destes movimentos, aconteceu o maior festival de música até hoje visto, o Woodstock84 que reuniu 500 mil pessoas, no embalo de música, sexo e drogas. Evidentemente que os engajados nessa onda tinham ideologia igual a de Leary. Certamente quem foi persuadido por Leary e se sentiu bem (pelo menos a principio), adorou a religião proposta por ele, mas aqueles que tiveram uma viagem má, certamente entenderam que toda aquela falácia não era coisa divina e, sim, coisa do capeta.
Poderíamos ainda aqui questionar, como é que ficaria, ou como ficou, a dita “espiritualidade”, depois de estabelecida a dependência (para as drogas que provocam dependência – o que não é o caso da LSD), e/ou depois que as drogas (todas, inclusive a LSD) provocaram lesões ou afetações psicóticas em seus usuários. Como é que seriam essas visões expandidas da consciência? O que se sabe é que estes movimentos e modismo da década de 60 levaram à tragédia muitos adeptos, inclusive expoentes artistas. Se fizesse uma lista desses artistas, certamente nela se encontrariam Elvis 83 Ken Kesey conheceu a LSD, quando foi voluntário num escandaloso estudo com essa droga feito pela Cia, o órgão espião americano. 84 O Woodstock Music & Art Fair foi realizado de 15 a 18 de agosto de 1969, numa  pequena cidade rural de Bethel, no estado de Nova York. O festival estava inicialmente programado para acontecer na cidade de Woodstock onde morava o músico  Bob Dylan, mas a população local não aceitou a realização do evento ali.
Elvis Presley, Jimi Hendrix, Marilyn Monroe, James Joplin, Jim Morrison, e tantos outros.
Aqui no Brasil o maior destaque ficou por conta de Elis Regina e, depois, com Raul Seixas. Por fim, poderíamos perguntar a quem não se convenceu com as exposições acima, se nos permitem o termo: seria a “espiritualidade química” igual à espiritualidade teorizada pelos teólogos e místicos que aqui citamos anteriormente?
Hoje o conhecimento sobre o funcionamento das drogas no Sistema Nervoso Central é relativamente bem conhecido. É conhecida a atuação das drogas como neurotransmissores ou como estimuladores destes nas sinapses. Já é conhecido até que estímulos nervosos positivos, como estados de inspiração divina dos religiosos,  podem estimular neuro transmissores e provocar sensações de euforia e êxtase. Há inclusive teses, como as de Carl Marx e Sigmund Freud, argumentando que, assim como nas drogas que podem causar dependência, as religiões que provocassem esse mesmo fenômeno, também poderiam ser classificadas como indutoras da dependência, e por analogia, como droga. Ainda que não fosse do conhecimento dessas duas celebridades, é sabido que não é apenas a droga química que produz a dependência.
Sabe-se também que as euforias, qualquer que seja a etiologia, depois que se vão, levam o individuo a estados depressivos. Se formos aceitar teses como a de Bill, de que drogas como a LSD provocam
“experiência completamente espiritual”, as pessoas poderiam coerentemente aceitar o seguinte silogismo: bocas-de-fumo podem ter tanta serventia quanto os templos, para o seu desenvolvimento espiritual, assim como também, seria aceitável se conceber que toda religião é uma droga.

Notas de Rodapé:
82 No capitulo “Dependência de Drogas e Religiões” discorremos um pouco mais sobre essa relação. 
83 Ken Kesey conheceu a LSD, quando foi voluntário num escandaloso estudo com
essa droga feito pela Cia, o órgão espião americano.
84 O Woodstock Music & Art Fair foi realizado de 15 a 18 de agosto de 1969, numa
pequena cidade rural de Bethel, no estado de Nova York. O festival estava inicialmente
programado para acontecer na cidade de Woodstock onde morava o músico
Bob Dylan, mas a população local não aceitou a realização do evento ali.