VISITANTES Greda - Grupo de Recuperandos da Dependência de Álcool / Luiz Alberto Bahia: Continuaçãoi de leitura (O não a um não da frase de Eloá...)

Continuaçãoi de leitura (O não a um não da frase de Eloá...)

Recebi uma mensagem elaborada por um professor, cujo texto é recomendado por um colega de docência, sem ressalvas. Trata-se de um artigo elaborado por outra professora, esta, da cadeira de psicologia. O teor do artigo é uma análise fenomenológica envolvendo a trágica morte da jovem Eloá, barbaramente assassinada por seu ex-namorado. Esta mensagem que circula pela internet, além dos educadores formadores de opinião, está também endossada por todos os que a repassam, com a melhor das intenções. Isto acontece porque o enfoque central realmente é importante e merece reflexões – trata-se dos limites – que muitos pais já não conseguem estabelecer para os seus filhos.
Contudo, como pesquisador e escritor ensaísta em dependência de drogas, observei um grande equivoco na mensagem. Bem provavelmente o equívoco do autor passou despercebido por todos os envolvidos, desde seus criadores até os que simplesmente repassam a mensagem. O lamentável deslize aponta para outro atual fenômeno estarrecedor, no meu entendimento, este até mais importante e de consequências mais avassaladoras do que a falta de limite dos nossos jovens: a visão distorcida e a falta de conhecimento sobre drogadição, principalmente por quem deveria ter domínio sobre o assunto. No caso que estamos abordando, isso funciona como indução ao uso de drogas (saibam como isto funciona visitando nosso blogue www.greda-luizalbertobahia.blogspot.com – lá estaremos postando um texto para atender especialmente a presente ocasião).   Lamentável a atuação dos formadores de opinião, cuja responsabilidade deveria ser de atuarem em sentido contrário: o de promover a prevenção ao uso de drogas.
O ato falho se consumou na frase (dentre as inúmeras citadas no artigo – começadas com a palavra “Não”): “NÃO, você não vai fumar maconha enquanto for contra a lei.”
A bem do pleno exercício de minha cidadania, permito-me refazer a frase, tornando-a coerente com a assertividade exigida neste caso:  Não, você não vai fumar maconha em hipótese nenhuma. Pais assertivos devem impedir que seus filhos usem drogas, mesmo que a lei o permita, para o bem de todos. Da forma que a mestra em psicologia colocou, fica subentendido que os pais devem permitir o uso de álcool, tabaco e Ayahuasca (esta agora também legalizada para fins religiosos) pelos filhos. Verdadeiramente um ato antirracional. O estado nunca substituirá os pais como educadores, e nem impedirá o pleno exercício do “Poder Familiar” (o antigo “Pátrio Poder”). E se ele (o Estado) concretizar este ato, de legalização do uso da maconha, estará indo contra o interesse de todos, inclusive o da própria federação, pois os impostos que poderiam ser gerados, não cobririam os custos que se criariam, pelos danos que a droga causaria.
A frase da professora de psicologia deve ter sido inspirada na malfadada corrente pro-liberação ao uso da maconha. Este movimento que ganhou força recentemente, devido à ação de oportunistas e incautos, é um dos maiores contrassensos acontecidos no Brasil. Os oportunistas em sua maioria são os narcotraficantes, os que se aproveitam deles, e os incautos, na mesma proporção, são os leigos e/ou políticos presunçosos e prepotentes. Deplorável a posição dos políticos apologistas da maconha. Mesmo diante da posição unissonante e diametralmente oposta dos especialistas (não conheço um único especialista que seja favorável a tal estapafurdice) arvoram como donos da verdade. Evidente que os políticos deveriam consultar os especialistas para se nortearem, ou então que serventia teria um e outro?
E não é só quanto à liberação do uso da maconha que a maioria destes políticos nos surpreendem, mas em tudo que diz respeito à drogadição. Poderíamos colocar a liberação da maconha na gaveta das politicas equivocadas. Nos extremos desta questão estão a prevenção ao uso de drogas e a terapia para dependentes. Estas poderíamos colocar em duas outras gavetas, com os títulos de Omissão Total e Negligência Absoluta. A inabilidade dos políticos nesta questão é tão homogênea, que não respeita nem as ideologias partidárias, podendo ser encontrada em diferentes partidos. Como exemplo (altamente significativo) podemos citar a atual presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A primeira com o plano anticrack, e o segundo como ativista da liberação ao uso da maconha. 
Além de não terem sido aprovados os métodos do tal plano pelos especialistas, ele traz um ineditismo surpreendente. Surpreende negativamente e denota não só a ignorância dos políticos, como também a estupidez deles, pelas seguintes razões:
1)          Embora se fale em outras drogas, é o crack o alvo da medida, tanto é que o nome do plano é “Plano anticrack” e o slogan do mesmo é “Crack, é possível vencer”. Certamente que o crack é mais midiático e gera maiores dividendos políticos. Claro que é um plano essencialmente político.
2)          Porque o Crack e não o Oxi e a Merla também? Já que todos são idênticos quanto ao principio ativo. Na verdade são nomes vulgares da forma de apresentação da cocaína (Erythroxylon coca), e ela não foi nem citada.
3)          Os dependentes quase NUNCA começam pelo crack e por estas outras formas de apresentação da cocaína. Elas são, sim, o fim da linha. Então porque não começar no início desta linha? Iniciar com as drogas tidas como gateway drugs, que no bom português significa “Porta de entrada para as outras drogas”. Esta porta é constituída pelo álcool, tabaco e maconha. (E não me venham dizer que esta porta de entrada é mito - o que indubitavelmente é outro erro crasso). Estudos sérios apontam que apenas 1% dos dependentes de cocaína, morfina e heroína não começaram pela porta de entrada das outras drogas.
            Porque no lugar de Plano anticrack, e antes de atacar as dependências de drogas, não fazem um consistente “Plano preventivo ao uso de drogas”? A prevenção ao uso de drogas é talvez o consenso mais gritante que existe em todos os segmentos sociais, inclusive entre as pessoas leigas no assunto, com exceção, é claro, dos políticos. Além de evitar lágrimas, sangue e prejuízos de toda ordem, a prevenção é ainda extremamente mais barata. Se a drogadição alcançou patamar caótico isso se deve ao fato de que a sociedade está recebendo uma resposta de suas opções, e os políticos são cumplices e incentivadores desta tragédia anunciada.

4)          Mas os resultados só viriam anos mais tarde, e eles querem resultados para 2014 (conforme previsão dos políticos), ano de campanha para eleição presidencial, ou mais sutilmente, de reeleição. Não existe nenhum plano consistente do governo federal para prevenção ao uso de drogas. Já oferecemos um (o projeto “Prevenção de Verdade” – aprovado por especialistas em drogas e em educação – disponível para educandários e professores, basta contatar-nos), inteiramente de graça (portanto sem possibilidade de corrupção) a vários políticos de nossa comunidade, que não se interessaram por ele. Está empoeirando ali na prateleira, enquanto criancinhas são iniciadas no submundo das drogas, inclusive pela ação direta dos políticos. Como dói.
            Já o ex-presidente FHC, quer ser o dono da verdade, e se coloca como um dos maiores ativistas pela liberação do uso da maconha. Talvez a razão disso tenha sido a sua própria experiência pessoal de uso da droga, já que confessou ter dado umas “baforadas” no baseado, sem se tornar um dependente. Mas não é o que aconteceu com uma legião impressionante de dependentes.
             FHC liderou o grupo pró-liberação do uso da maconha, na última reunião da Comissão Global Sobre Políticas de Drogas. O evento foi realizado em Genebra em 25/01/11. Ele participou ainda da 3ª Reunião da Comissão Latino-Americana Sobre Drogas e Democracia, e na TV posou ao lado de apologista e confesso usuário de drogas, como garoto propaganda da Cannabis. Uma frase do ex-presidente, denota a o tamanho de sua ignorância sobre o tema. A frase sobre o usuário de drogas (de que na cadeia “onde ele só vai aprender a usar outras drogas” foi dita no programa da Regina Casé, da Rede Globo. Claro que não somos a favor de prender usuários, mas o que nos arrepia é o seu desconhecimento, pois ele, ao propor o favorecimento do uso da maconha, é que está abrindo as portas para se “aprender a usar outras drogas”. Na contra capa do livro Drogas: Evite ou Saia, Não Morra, de minha autoria, por achar de suma importância, expus alguns conceitos da OMS sobre como uma pessoa é propensa ao uso de drogas, que é o caminho para ela se tornar dependente de drogas:
- sem adequadas informações sobre os efeitos das drogas;
- com uma saúde deficiente;
- insatisfeita com sua qualidade de vida;
- com personalidade deficientemente integrada;
- com fácil acesso às drogas.
É facilitando o acesso às drogas, com a tal liberação do consumo de drogas, que se agravará extraordinariamente a atual situação referente à dependência de drogas. Não é na cadeia, sociólogo FHC, e sim facilitando o acesso às drogas - como o que o senhor está propondo -, é que serão exacerbardos o uso e a dependência de drogas. Uma estupidez.
A Suíça, a Dinamarca e a Holanda, revisaram suas posições de liberação ao uso controlado de drogas. O criminologista holandês Dirk Korf, da Universidade de Amsterdã, diz que a “expectativa ingênua de que a legalização manteria os grupos criminosos longe dessas atividades” foi mostrada em pesquisas. Elas também apontaram que 67% da população holandesa é agora  a favor de se coibir a liberdade de uso de drogas. Assim o senhor FHC está completamente na contramão da história. Entendemos que se o ex-presidente se dedicasse a liderar uma sistemática oposição ao atual governo, com a mesma eficiência que estes opositores lhe fizeram no seu mandado, o Brasil seria bem melhor servido.
Sugerimos que o senhor ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a presidenta Dilma Rousseff, a psicóloga autora do artigo em que cita a infeliz frase, e a todos os formadores de opinião e demais pessoas que se habilitarem a falar em público, sobre a questão das drogas, que gastem um pouco de seu precioso tempo para adquirir conhecimento (mais precioso ainda) sobre drogadição. Assim poderão se pronunciar com embasamento e salvar muitas vidas, em vez de empurrá-las para a cova.

3 comentários:

Anônimo disse...

o que é o greda? ele está funcionando? Quantos membros existem?

GREDA - Luiz Alberto Bahia disse...

Respondendo a pergunta acima: O GREDA encontra-se em fase de fundação. Várias pessoas fizeram contato comigo e estão empenhadas nisso. Eu me limitei a criar e divulgar o programa, deixando para outros o interesse e iniciativa para colocá-lo em prática.

Abraço,

Luiz Alberto

Unknown disse...

A atual "guerra contra as drogas" é um fracasso. Nem todo jovem que experimentar maconha será viciado, e o mesmo ocorre com o álcool. Outras drogas devem ter outro tratamento (inviabilizar o processamento e fontes de dinheiro). Concordo que não se deve estimular nenhum consumo, mas criminalizar também não tem sido solução. Para o álcool, políticas restritivas têm mostrado melhor resultado (horários de venda, locais, preço elevado etc.) A "lei seca" só gerou aumento do contrabando e corrupção.