Síndrome de Wernicke-Korsakoff
A síndrome de Wernicke-Korsakoff, na verdade, são dois distúrbios que podem ocorrer em conjunto ou isoladamente, de forma abrupta no primeiro caso e gradual no segundo. O primeiro (encefalopatia de Wernicke) é caracterizado por marcha atáxica (descoordenação no andar), oftalmoplegia (paralisia ocular), e confusão mental, e é acometido em decorrência da carência nutricional. O segundo (psicose de Korsakoff) é um estado de confusão mental, em que a memória de retenção fica gravemente comprometida. A presença de todos os sintomas num mesmo caso não é necessária para se fazer o diagnóstico. Essa síndrome é uma das consequências mais graves da dependência de álcool.
Embora esse quadro patológico seja frequente em dependentes de álcool, não é diagnosticado com a mesma constância, porque quase sempre as atenções dos médicos estão voltadas para outras consequências da dependência que normalmente lhes chamam mais as atenções.
A doença é uma consequência de lesões causadas ao sistema nervoso central e periférico e acontece também devido à síndrome de abstinência, acometendo os dependentes com mais frequência na faixa etária dos 40 aos 80 anos de idade. Esses danos ao sistema nervoso são atribuídos a déficits nutricionais, pela falta da vitamina B 1 (tiamina), que além das dificuldades de serem absorvidas na presença de álcool, pode ser em consequência da falta de cuidados com a dieta alimentar, pela sua não inclusão. O declínio psicológico e a afetação cognitiva da maioria dos pacientes são derivados da interação entre uma tríade composta por neurotoxidade alcoólica, por deficiências da tiamina e por suscetibilidade do indivíduo. A psicose de Korsakoff, juntamente com os danos ao cérebro (encefalopatia) e ao sistema nervoso como um todo, envolve prejuízos à memória e às habilidades cognitivas e intelectuais. Ficam evidentes as dificuldades na solução de problemas ou novos aprendizados. Talvez o sintoma mais característico seja o da confabulação (invenção), quando o doente cria histórias cheias de detalhes para compensar os lapsos de memória.
Os distúrbios mentais e de consciência deixam o paciente confuso, apático, desatento e com dificuldades de se expressar verbalmente. Alguns pacientes podem apresentar, junto ao quadro da síndrome de Wernicke-Korsakoff, a síndrome de abstinência, que neste caso pode provocar alucinações, hiperatividade autonômica, agitação e alterações de percepções. Caso o paciente não seja devidamente tratado, o quadro pode evoluir para o coma e para a morte - o que não é raro. O tratamento neste caso é com a reposição de tiamina, estimada em 300 mg/dia por via intramuscular, por um período entre 7/15 dias, e quando isso é feito, o dependente recobra rapidamente seu estado de alerta e a tenacidade que lhe é peculiar. ["O mito da doença espiritual na dependência de álcool (Desmistificando Bill Wilson e Alcoólicos Anônimos)", páginas 355-356] de minha autoria.
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