Conheço muito bem o programa de A.A. e de outros grupos baseados nos 12 passos. Sou ateu e não acho que pedir ajuda a um Deus pessoal vá me ajudar em nada. Mesmo assim, tenho certeza de que seria bem recebido em um grupo de A.A. e poderia levar em frente o trabalho dentro da irmandade. Talvez essa diferença me incomodasse, mas não acho que seria um impedimento fundamental.
Quanto à sua afirmação de que o A.A. explora financeiramente seus frequentadores, não vou nem comentar. Me parece profundamente mal intencionada. Qualquer pessoa pode frequentar A.A. durante toda vida sem tirar um centavo do bolso. Se o senhor tivesse feito uma pesquisa minimamente séria, saberia disso.
Prezado senhor Arnaldo Pereira,
Agradeço-lhe muito pelo seu comentário. Ele contribuirá no sentido de que eu possa lançar mais esclarecimentos sobre meus achados, e sobre isto passo a considerar:
Concordo quando o senhor diz que a dependência de álcool é pouco compreendida, e embora a ciência já tenha evoluído consideravelmente, ainda existem “bolsões de resistência” em aceitar os novos achados. E é exatamente neste ponto que discordo de V.Sa., pois a medicina já disponibiliza terapias cognitivo-comportamentais e medicamentosas, que possibilitam altos índices de recuperações. Quando estes dois recursos terapêuticos (psicoterapia e medicamentos) são aplicados simultaneamente, há a constatação de recuperações de até 36%. Este estudo levado a efeito pelo PROAD/UNIFESP foi divulgado recentemente, mas existem outros que apontam na mesma direção.
O senhor opina que se deve incentivar quem já está no A.A. a continuar. Embora estejamos preocupados principalmente são com os que vão até lá, e diante do que constatam desistem até mesmo de outras abordagens, achamos que as pessoas não devem se fanatizar para se livrarem da escravidão do álcool. Isto é trocar uma escravidão por outra.
Quanto a pergunta do senhor, se eu já ouvi falar de George Vaillant, respondo afirmativamente. Aliás, o “ouvi” em palestra que ele proferiu no XIII Congresso da ABEAD de 1999, no Rio de Janeiro, quando ali tive a oportunidade de apresentar um trabalho científico, de minha autoria. Ao citar o Dr. Vaillant, fico na dúvida até qual o ponto o senhor leu de sua obra, pois na A história natural do alcoolismo revisitada, obra oriunda de sua famosa pesquisa, ele apontou que de um grupo de dependentes de álcool, que ele só acompanhou, porém, não tratou, 37,5% se recuperou. Embora o Dr. Vaillant tenha contribuído com sua pesquisa (considerada a maior delas na dependência de álcool), ele comete equívocos crassos, como os que abaixo enumeramos:
O senhor opina que se deve incentivar quem já está no A.A. a continuar. Embora estejamos preocupados principalmente são com os que vão até lá, e diante do que constatam desistem até mesmo de outras abordagens, achamos que as pessoas não devem se fanatizar para se livrarem da escravidão do álcool. Isto é trocar uma escravidão por outra.
Quanto a pergunta do senhor, se eu já ouvi falar de George Vaillant, respondo afirmativamente. Aliás, o “ouvi” em palestra que ele proferiu no XIII Congresso da ABEAD de 1999, no Rio de Janeiro, quando ali tive a oportunidade de apresentar um trabalho científico, de minha autoria. Ao citar o Dr. Vaillant, fico na dúvida até qual o ponto o senhor leu de sua obra, pois na A história natural do alcoolismo revisitada, obra oriunda de sua famosa pesquisa, ele apontou que de um grupo de dependentes de álcool, que ele só acompanhou, porém, não tratou, 37,5% se recuperou. Embora o Dr. Vaillant tenha contribuído com sua pesquisa (considerada a maior delas na dependência de álcool), ele comete equívocos crassos, como os que abaixo enumeramos:
1 – Que “uma pessoa alcoólica pode beber socialmente”, como afirmou taxativamente o pesquisador, inclusive à mídia.
2 - Além de beber, O Dr. Vaillant induziu os seus filhos para que também o fizesse, desde os 10 anos de idade.
3 – Recomenda grupos de ajuda mútua tipo Alcoólicos Anônimos, argumentando que é para “um aumento da espiritualidade”.
Quanto ao item de número um, nem caberia muita reflexão, pois é universalmente aceito que o dependente de álcool é uma pessoa incapaz de controlar sua maneira de beber. Até o A.A. sabe disso e sugere aos seus membros para “evitar o primeiro gole”. Se o Dr. Vaillant assume o risco de beber, o problema é dele (uma das maiores autoridades – talvez a maior – diz que não existe uma dose segura para se beber), mas induzir os filhos a beberem desde tão pequenos, não só é uma irresponsabilidade absoluta, como é crime. E recomendar grupos como o A.A., para “aumentar a espiritualidade”, como meta terapêutica, é retrógrado e contraproducente. O senhor sutilmente me recomenda este famoso médico, como se fosse um ponto final na questão, mas faço as ressalvas acima, veementemente.
Senhor Arnaldo Pereira, em nosso último livro, “O mito da doença espiritual na dependência de álcool (Desmistificando Bill Wilson e Alcoólicos Anônimos)”, tratamos de esclarecer todas essas questões. Como é um livro científico, tudo que dissemos é demonstrável, quando não, apresentamos provas, notadamente quanto aos ilícitos fiscais e remessa de royalties para os EUA praticado pelo A.A. Sem falar no principal, que é mostrar como é contraproducente o método dos Doze Passos de A.A. Em defesa desta irmandade, o senhor quer convencer que ela deve ser aceita, ainda que reconheça, que “Dá certo apenas para uma pequeníssima parcela de alcoólicos”, mas se esquece do mais importante, que são os efeitos contrários que isto está produzindo. Como não leu não pode saber. E aí está o foco principal de minas atenções, de mostrar a estigmatização que A.A. impõe a todos os dependentes de álcool. E devido a isso A.A. talvez seja o maior responsável pela estatística apontada pela OMS, de que menos de 1% desses dependentes estejam em tratamento. Consequentemente, mais de 99% dos dependentes estão sucumbindo desalentadora e A.A. tem muito a ver com isso senhor Arnaldo. Então não aceitamos que o ônus do problema seja invertido em meu desfavor. É insofismável que a ineficácia que o método dos Doze Passos provoca há anos, está impelindo milhões de doentes para a sarjeta fatal. Devido V.Sa. conhecer bem os Doze Passos, como afirma, não o outorga a dar-lhe validade. O que esta entidade fez, inteiramente inaceitável, foi forjar o mito da doença espiritual - com fins doutrinários -, chamar o dependente de pecador, dizer que a causa de sua doença é espiritual e também afirmar que a doença é devido aos defeitos de caráter de seu portador. Ela se mostrou ainda fascista diante da validade dos métodos terapêuticos científicos (inclusive acusando a medicina de mercantilização da doença). Essas são apenas algumas das aberrações produzidas por este programa, tão hostil ao conhecimento, sectário e nefasto. Nefasto, porque a esmagadora maioria dos que vão até lá pedindo socorro, não aceita o método e se torna resistente a outras abordagens, tão humilhados se sentem.
Agora sou eu quem lhe pergunta, senhor Arnaldo, Já “ouviu falar” do Dr. James R. Milan ou do Dr. Eduardo Kalina? Recomendo-lhe a leitura de suas obras, são autoridades inquestionáveis e reconhecidas mundialmente. Recomendaria ainda que lesse também o meu livro, acima citado, pois lamento profundamente que o senhor, sem lê-lo, diga (levianamente – me permita o termo em defesa de minha honra) que minhas intensões sejam “mal intencionadas”, ou que eu não tenha feito uma pesquisa séria. Há dezessete anos venho pesquisando exaustivamente, dentro dos mais rigorosos princípios científicos e dentro de padrões de civilidade espartana. E, diga-se de passagem, estas pesquisas mais aprofundadas, só foram possíveis porque os resultados com os encaminhamentos que fiz para o A.A., se tornavam cada vez mais decepcionantes.
Concordo ainda com V.Sa. quando diz que qualquer pessoa pode frequentar A.A. sem tirar um centavo do bolso, todavia isso seria a exceção, não a regra vigente. Contudo isso só seria possível a uma pessoa que se negasse a fazer as contribuições “espontâneas” e não comprasse os produtos que lhe é sistematicamente oferecido. O que faz alguém pensar que a extensa literatura obsoleta que A.A. coloca à venda, juntamente com outros oitenta e seis itens, fica empoeirando na prateleira ou servindo de enfeite? E o que dizer dos balancetes com milhares de dólares de superávit, e os milhões enviados a matriz americana? De onde viriam essas somas expressivas? Por fazer estas denúncias o senhor me taxa de mal intencionado, mas quem é verdadeiramente mal intencionado nesta história? Acreditar que os milhões que o A.A. fatura desde sua criação, a maior parte não vem dos bolsos de seus membros, é pura ingenuidade ou desconhecimento completo sobre a realidade da irmandade. Digo desde sua criação, porque na própria biografia autorizada de seu fundador, Bill Wilson, se constata claramente que ele arrecadava dinheiro dos grupos de A.A., e até direitos autorais que pertenciam à entidade, ele se apossou deles por meio de manobras nada recomendáveis. E a única fonte de renda daquele senhor (não tinha profissão e estava falido) era o A.A., que lhe proporcionou inclusive comprar uma big casa e um automóvel Cadillac, logo após a fundação da irmandade. E parte desta fabulosa fonte de lucros, ele deixou em testamento para terceiros. Em vida, até a amante preferida do messiânico criador da irmandade foi contemplada com polpuda soma.
Quanto ao senhor dizer que estou atacando e disputando, vou creditar novamente ao fato do senhor não ter lido o meu livro. Contudo o bom senso deveria ter lhe acudido para não fazer afirmações tão descabidas e precipitadas. Só se adquire conhecimento sobre determinada coisa estudando-a, e não exercitando adivinhações a seu respeito. Quem lê meu livro isento de passionalidade, poderá chegar a conclusões bem diferentes das que o senhor tentou adivinhar, como atestam os depoimentos que tenho recebido, notadamente de especialistas neste campo do conhecimento humano.
Sei que há quem não concorda comigo, e existem até os gratuitos, ou outros levados por manifestações impulsivas, precipitadas ou passionais. Na verdade quase sempre se manifestam assim por ignorarem a verdade, mas um contingente bem maior aquiesce à minha tese. Aceito todos em suas exposições, pois de uma forma ou de outra favorecem o meu crescimento e aperfeiçoamento. Mas não nego que prefiro a companhia de especialistas, como o Dr. Eduardo Kalina, que prefaciou o livro acima referido, e em determinado trecho de seu texto disse: “Al respecto quiero dejar constancia de mi total coincidencia respecto a la posición ideológica que expone acerca de lo que significa Alcohólicos Anónimos”.
Atenciosamente,
Luiz Alberto Bahia
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